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DOENÇAS ALÉRGICAS

A palavra alergia deriva do grego allos (outro) + ergia (ação, eficácia). Assim, alergia quer dizer “ação diferente”. O ser humano está exposto a uma série de agentes como ácaros, fungos, insetos, alimentos e medicamentos que, em indivíduos geneticamente predispostos, podem desencadear uma resposta exagerada do sistema imunológico, também conhecida como hipersensibilidade.É como se o sistema imunológico considerasse o agente mais agressivo do que realmente é.

 

A herança genética é a base para ter alergia, mas é necessária a associação com fatores do ambiente. A doença alérgica pode manifestar-se em qualquer idade, pois vai depender do ambiente em que a pessoa vive ou do momento em que se expõe a um determinado agente. 

 

As doenças alérgicas são bastante comuns, acometendo cerca de 30% da população mundial, podendo causar relevante comprometimento da qualidade de vida de crianças e adultos. Frequentemente, os sintomas não são valorizados pelo paciente e seus familiares. Por outro lado, é comum que os pacientes e seus responsáveis tenham muitas dúvidas sobre o diagnóstico e o tratamento das doenças alérgicas.

▪ ASMA

A asma atinge cerca de 20% das crianças do Brasil. Por ano, são 2 mil mortes de adultos e crianças, e a falta de informação é um dos fatores que mais contribuem para os óbitos por asma, doença respiratória que está entre as mais prevalentes do mundo. Caracterizada pelo chiado no peito, tosse e falta de ar. A asma pode impedir que a criança deixe de realizar as suas atividades cotidianas, como ir à escola, jogar bola, correr, já que a falta de ar incomoda muito.

 

Outro tipo de asma é a desencadeada pelo esforço; a criança brinca, corre pela casa e, de repente, começa o chiado e a tosse. Há prevenção e tratamento com medicamentos adequados para cada situação. A participação ativa do médico nesse acompanhamento é fundamental, já que é muito importante explicar para a família o que é a doença, quais cuidados preventivos tomar, que tipo de terapia a criança vai usar, qual medicamento vai receitar, e o que se espera do tratamento. Só assim, pais e mães estarão seguros para administrar a medicação e retornar ao consultório para contar como foi o período de cuidados, que mudanças precisam ser feitas, até que o paciente esteja controlado e tenha uma boa qualidade de vida. Não tenha medo do nome asma: ela só precisa ser identificada e tratada. 

▪ RINITE ALÉRGICA

 

A rinite alérgica é a doença alérgica mais prevalente na população mundial. A rinite alérgica caracteriza-se por ser uma doença inflamatória crônica da mucosa nasal, de origem hereditária, cujos sintomas são desencadeados principalmente por fatores ambientais. 

 

Os sintomas da rinite são: coriza abundante e aquosa, espirros repetidos, coceira (nariz, olhos, ouvidos, garganta) e obstrução nasal. A rinite alérgica é uma doença que causa um grande impacto na qualidade de vida de quem sofre com ela, principalmente se os sintomas forem intensos e duradouros o bastante para alterar a qualidade do sono, o rendimento escolar ou no trabalho, a interação social e a prática de atividades físicas. Além disso, a rinite alérgica nunca está sozinha.

 

Em crianças ela facilita a ocorrência de otites recorrentes e crônicas, pode alterar a conformação da arcada dentária, da cavidade oral e, em qualquer idade, está associada com conjuntivite alérgica, aumenta a ocorrência de resfriados, sinusites e pode ser a porta de entrada facilitadora para o desenvolvimento de asma brônquica.

Por tudo isso, a rinite alérgica, frequentemente menosprezada e não tratada adequadamente, causa uma série de outros problemas. Em todos os casos será importante realizar medidas de controle ou higiene ambiental para reduzir o contato e a inalação das substâncias alergênicas. Em muitos casos também, é necessário o uso de medicamentos para controle do processo inflamatório crônico das mucosas respiratórias, evitando a ocorrência de crises e o agravamento do problema. 

 

Em casos selecionados, poderá ser necessário o uso da imunoterapia (vacinas para doenças alérgicas), que é, até o momento, o único tratamento capaz de reduzir a hiperssensibilidade já existente, assim como para prevenir o surgimento de hiperssensibilidade a novos agentes desencadeantes. Em outras palavras, o bom controle ambiental junto com a imunoterapia, indicada e acompanhada pelo médico, são a única forma eficaz de reduzir o que alimenta cronicamente o problema. 

▪ ALERGIA A PICADA DE INSETOS

As reações a picada de insetos podem ser apresentadas de duas principais formas: 

a) A primeira é ocasionada por insetos hematófagos ou “sugadores”, que injetam substâncias para sugar o sangue (mosquitos, pulgas, carrapatos etc.). Estes venenos são substâncias que servem para trazer mais sangue para o local da “picada”. Costumam provocar reações características na pele, com caroços avermelhados e que coçam muito, principalmente nos locais das picadas. Podem ocorrer imediatamente ou até três dias depois. 

b) A segunda é ocasionada por insetos himenópteros, ou seja, que injetam venenos (abelhas, vespas / marimbondos, formigas etc.). Provocam na maioria das vezes reações anafiláticas, imediatamente após a picada, podendo ser severas, com risco de morte. 

As pessoas que apresentam reações a picada de insetos devem tomar cuidados, adotando medidas preventivas, como, por exemplo: colocar telas nas janelas e cortinados nas camas; usar roupas compridas e repelentes de insetos; eliminar plantas e outros depósitos de água parada (onde são depositados os ovos dos insetos) na casa e nas suas proximidades. Há também, possibilidade de tratamento com imunoterapia. 

▪ ALERGIA ALIMENTAR 

Qualquer pessoa, em qualquer idade, pode apresentar reações a alimentos; As reações aos alimentos podem ser verdadeiramente alérgicas ou não. Reações não alérgicas: são as mais comuns, como por exemplo, reações tóxicas devido à presença de substancias ou contaminantes no alimento (ex: diarreia após alimentação com alimentos com toxinas bacterianas devido à má conservação) e existem reações de intolerância individual: quando a pessoa tem alguma dificuldade de digestão do alimento (ex: intolerância a lactose), o acúmulo dela dentro do intestino acaba "puxando" água dos vasos sanguíneos levando à diarreia; 

Reações alérgicas verdadeiras podem acontecer desde a infância, como é comum com a alergia as proteínas do leite de vaca e da clara do ovo, que geralmente se iniciam nos primeiros anos de vida e podem ou não perdurar até a adolescência e idade adulta, ou podem surgir em qualquer idade, como as reações a crustáceos (camarão, caranguejo, lagosta, siri) que geralmente começam em adolescentes e adultos.. A alergia alimentar pode se manifestar de diversas formas, como a simples presença de sangue nas fezes em bebês, ou como dor abdominal, vômitos e diarreia em crianças e adultos.

 

Outras manifestações possíveis são a dor ao deglutir, pirose (azia) e sensação de parada do alimento no peito (impactação alimentar), na inflamação alérgica do esôfago (esofagite alérgica). Também podem ocorrer alterações fora do trato gastrointestinal, como urticária (placas vermelhas que coçam muito), angioedema (inchação abrupta nas pálpebras, lábios ou outros locais) e até mesmo sintomas oculares (vermelhidão e coceira recorrentes nos olhos). Eventualmente podem surgir sintomas respiratórios como crises iguais a da asma (chiado, tosse e falta de ar) ou obstrução aguda da laringe (o edema de glote), com ou sem alterações sistêmicas como queda da pressão arterial e choque (anafilaxia). 

Em nosso meio, os alimentos envolvidos com maior frequência na alergia verdadeira são o leite de vaca e a clara de ovo, nas crianças pequenas, e o amendoim/nozes/castanhas e crustáceos nas crianças maiores e adultos. Em menor frequência a soja e outros grãos (ex. Gergelim), peixes, vegetais e frutas, como banana, abacate e kiwi, dentre outros, também podem causar alergia. 

Não existem vacinas para alergia alimentar. A exclusão do alimento da dieta é a única forma de prevenir a ocorrência dos sintomas. 

▪ ALERGIA A MEDICAMENTOS

 

As reações adversas a medicamentos são eventos comuns na prática médica, acometendo cerca de 20% a 25% dos pacientes hospitalizados e não-hospitalizados. Contudo, as reações alérgicas constituem um subconjunto das reações adversas e são menos freqüentes. Definimos como reação adversa a um medicamento qualquer efeito indesejável relacionado ao uso de um medicamento diferente do seu efeito farmacológico almejado. Podemos citar como exemplos de reações adversas não-alérgicas as reações tóxicas (uso de dose excessiva), efeitos colaterais (gastrite devido ao uso de anti-inflamatórios), interação medicamentosa (sonolência pelo uso simultâneo de anti-alérgico e tranqüilizante), reações pseudo-alérgicas (reações anafilactóides pelo uso de meios de contraste iodados), reações idiossincrásicas (urticária relacionada a anti-inflamatórios) e outros. 

 

As reações alérgicas ocorrem em pessoas com predisposição genética, sendo alguns fatores predisponentes: atopia, desordens do sistema imunológico, distúrbios circulatórios e desordens metabólicas. Os principais medicamentos envolvidos nas reações alérgicas são: antibióticos, sulfas, analgésicos, anti-inflamatórios, anti-convulsivantes, anti-hipertensivos, anestésicos, hormônios e soros. As manifestações clínicas das reações alérgicas a medicamentos podem ser sistêmicas, destacando-se a anafilaxia (ex.: choque anafilático) e doença do soro, ou localizadas em determinados órgãos e/ou sistemas, tais como pele, sangue, fígado, rins, baço, coração e sistema nervoso central. A anafilaxia pode acometer a pele (urticária e angioedema), sistema respiratório (edema de glote e broncoespasmo) e o sistema circulatório (choque anafilático) e é a mais temida das reações alérgicas pelo seu alto risco de mortalidade.

 

Os principais agentes farmacológicos causadores de reações anafiláticas são os antibióticos e anestésicos gerais. As manifestações na pele constituem a expressão clínica mais comum de alergia a medicamentos. Dentre estas destacamos: urticária, angioedema (edema de lábios, pálpebras e/ou face), vasculites e eczema de contato. Os principais medicamentos desencadeadores de urticária, angiodema e vasculites são os anti-inflamatórios, antibióticos, sulfas e anti-convulsivantes.

 

O eczema de contato pode ser desencadeado pelo uso tópico (na pele) de vários medicamentos, incluindo colírios, pomadas, cremes e loções contendo principalmente antibióticos, anestésicos, timerosal (mertiolato) e anti-histamínicos. As reações alérgicas em sua primeira ocorrência são imprevisíveis. Entretanto, uma vez que uma pessoa tenha apresentado uma reação alérgica medicamentosa, é importante que ela receba a assistência adequada de um especialista para a confirmação do diagnóstico, tratamento e orientação com relação à prevenção de novas reações alérgicas a medicamentos.

▪ ALERGIA A COSMÉTICOS

 

Cosméticos são produtos amplamente utilizados e que podem provocar alergia. Compreendem substâncias presentes em maquiagens, perfumes, tinturas, alisadores capilares, depiladores, desodorantes, produtos para banho, cremes dentais, sabonetes, hidratantes, esmaltes de unhas, entre inúmeros outros produtos. A reação cutânea por cosméticos pode ser de dois tipos:

1. Dermatite de Contato Irritativa A dermatite de contato por irritante é mais comum e se caracteriza por coceira, queimação e sensação de “picadas”, surgindo logo após a aplicação do produto. Estas reações não são alérgicas. 

2. Dermatite de Contato por hipersensibilidade A dermatite de contato por hipersensibilidade, como o nome indica, resulta da sensibilização alérgica e não depende de ação irritante ou tóxica do produto sobre a pele. As reações de contato por alergia dependem de um processo de sensibilização e por isso não surgem na primeira vez que uma pessoa usa um determinado produto, mas sim após algum tempo. Este fato explica uma dúvida comum: - “se eu sempre usei, como é que só agora surgiu a alergia?”. Estas reações se acompanham de eczema e se acompanham de coceira importante. Logo surgem áreas avermelhadas (eritema) onde aparecem bolinhas de água (vesículas) e que podem se romper eliminando um líquido pegajoso (exsudação). Com o passar do tempo, o liquido seca, podendo surgir crostas e descamação. Utiliza-se a denominação de eczema ou dermatite de contato. O diagnóstico da dermatite de contato é feito através da análise clínica feita pelo médico. O exame físico evidenciará o tipo e a localização das lesões e o teste de contato complementará a busca do fator causal. 

▪ ALERGIA NOS OLHOS

 

Os olhos estão em contato direto com o meio ambiente, sendo alvos frequentes de reações alérgicas, principalmente a conjuntivite alérgica. A conjuntivite alérgica em geral acompanha a rinite alérgica. Manifesta-se por vermelhidão nos olhos, lacrimejamento, fotofobia (luz solar incomodando) e coceira. A presença da rinite alérgica indica a origem do processo e a confirmação diagnóstica é feita pelos testes cutâneos. A conjuntivite deve-se na maioria das vezes à alergia aos ácaros da poeira domiciliar. O processo agrava-se por fumaça, ar refrigerado, poluição e vapores químicos. A conjuntivite alérgica precisa ser reconhecida e medicada, para minimizar a sintomatologia e impedir agressões medicamentosas em um órgão tão delicado. É preciso cautela no uso de colírios. O abuso, na maioria das vezes por automedicação e sem qualquer critério, pode complicar um quadro simples.

▪ URTICÁRIA E ANGIOEDEMA 

A urticária é uma doença que interfere sobremaneira na qualidade de vida do paciente. É caracterizada por placas vermelhas de tamanho variado, com intenso prurido (coceira), que aparecem e desaparecem sem deixar manchas. Em cerca de 50% dos casos está associada ao angioedema (inchaço) das pálpebras, lábios, mãos, pés e genitália. Nos casos mais graves, pode vir acompanhada de outros sinais como chiado no peito, dificuldade para respirar, diarreia e queda da pressão arterial caracterizando anafilaxia. Os quadros de urticária são classificados como agudos, quando duram de um dia até 6 semanas, ou crônicos, que duram mais de 6 semanas e às vezes vários meses ou anos. 

 

As causas de urticária /angioedema são variadas e incluem alergia a alimentos, medicamentos e aditivos alimentares, infecções virais e bacterianas, verminoses, doenças sistêmicas como a tireoidite ou ainda fatores físicos como pressão, calor, frio ou exercícios. Em alguns casos, vários fatores estão envolvidos em um mesmo episódio e muitas vezes não se consegue identificar o fator desencadeador ou mantenedor da urticária. Os alimentos mais prováveis de causar urticária são os frutos do mar (camarão, lula, siri) nos adultos e ovo e leite nas crianças. Dentre os medicamentos, os analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais (dipirona, ácido acetil salicílico (AAS), diclofenaco, entre outros) são os mais comuns, além de antibióticos e medicamentos para tratamento de pressão alta. Látex (borracha) e picadas de insetos como abelha e marimbondo também podem causar urticaria em indivíduos sensíveis. 

O dermografismo (derme= pele, grafia = escrever, escrever na pele) é um tipo de urticária crônica de intensidade variável, causada por pressão leve na pele e que em determinadas situações pode interferir com a rotina do paciente interferindo no sono, no trabalho e na vida social do paciente. O estresse emocional pode estar contribuindo para a manutenção dos casos de urticária. 

O angioedema hereditário é uma doença pouco comum aonde o angioedema não vem acompanhado de urticária. Geralmente ocorre em crianças e adolescentes, pode ser familiar e grave. O diagnóstico de urticária/angioedema é basicamente clínico: a consulta e o exame físico são suficientes para o diagnóstico. Ás vezes, pode ser necessário a elaboração de um diário para correlacionar a urticária com algum fator.

 

Alguns exames podem ser necessários para identificar a(s) causa(s). Os testes alérgicos estão indicados em determinados casos de urticária aguda a alimentos e alguns medicamentos após a regressão do quadro. Os exames laboratoriais são necessários para investigar doenças sistêmicas, angioedema hereditário e outros. O tratamento baseia-se na identificação e afastamento do agente causal. Os medicamentos são usados para controle dos sintomas intensos e/ou persistentes. A urticária é uma doença bastante prevalente no nosso meio, envolvendo fatores variados com repercussão importante na rotina do paciente. O controle dos sintomas é fundamental para uma boa qualidade de vida. 

▪ DERMATITE ATOPICA 

 

A dermatite atópica é uma dermatose inflamatória crônica e recidivante caracterizada por lesões eczematosas, as quais coçam muito (prurido intenso) e apresentam localização típica de acordo com a idade do paciente. A dermatite atópica atinge cerca de 10 a 20% das crianças em todo o mundo. Seu predomínio é na infância com manifestações clínicas iniciais nos primeiros cinco anos de vida em 90% dos casos. 

De acordo com dados estatísticos da literatura, cerca de 60% dos pacientes ficam assintomáticos até a adolescência, entretanto, os 40% restantes continuam apresentando sintomas por toda a vida. Portanto a nós médicos cabe desmistificar, ou seja, orientar, mostrar as dificuldades, a importância do controle permanente da pele, pois mesmo quando estiver bem, o paciente deverá manter todos os cuidados gerais como a hidratação que é fundamental, os cuidados com a frequência e duração dos banhos, tipos de roupas, o controle ambiental, enfim tudo o que faz parte da manutenção do quadro. 

Na agudização o paciente será tratado sintomaticamente em função da intensidade do acometimento cutâneo. São muitas as medicações disponíveis, mas não existe um tratamento único, uma receita única para todos, pois cada paciente será tratado individualmente. É uma doença geneticamente complexa, de difícil manejo, dependendo da intensidade e da extensão das lesões e sujeita a recidivas apesar de todos os cuidados prévios. É provável que ela seja o resultado da interação de uma série de fatores: além da susceptibilidade genética (história familiar), fatores ambientais, psicológicos, sociais, farmacológicos, defeitos na barreira cutânea cada vez mais evidentes, infecções de pele, além dos fatores imunológicos. Apesar de todo o conhecimento atual, muito há ainda que se conhecer, pois sua prevalência tem aumentado de forma considerável nos últimos trinta anos. Diversos estudos tem sido realizados para que esta doença tão complexa seja bem entendida. 

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